Teus dedos macios nos meus lábios molhados, teu corpo nu irradiando calor, você sussurrando no meu ouvido toma, princesa, você merece, teus outros dedos cavando fundo dentro de mim.
A gente, eu e você, uma ilha de calor, teu suor me banhando, meu cheiro impregnando tua pele tão quente, o som do ventilador distante e contínuo, monótono o suficiente pra parecer um mantra, vou sendo embalada pra longe daqui.
Fecho os olhos e vejo um deserto, você oásis abundante e fértil, e eu, que andei tão seca, tão quebradiça, tão apática, chego pra me molhar morrendo de medo da minha sede.
Você pede pra eu me tocar e porque você pediu levo os dedos até minha buceta, acaricio o clitóris hesitante, prevendo a frustração de não sentir, mas, pro meu assombro, algo reverbera e desencadeia uma quentura pelo resto do corpo - pela primeira vez em muito tempo eu me toco e me sinto.
Estou sentindo!, abro os olhos abrupta e te vejo, tua boca entreaberta, teus dentes pequenos, teu olhar intenso, nos teus olhos eu me vejo, no teu desejo eu vejo o meu - é claro que você me quer e algo dentro de mim me autoriza a te querer também, te quero até a última gota, quero me dar inteira pra você, quero que você me coma e me devore e cuspa nos meus buracos.
Meu assombro me assombra mais uma vez - estou desejando!, eu que nos últimos anos desaprendi a desejar porque todo desejo parecia distante, eu que mal queria viver, quem dirá viver alguma coisa, eu que me mediquei pra não sentir o abismo que me puxava pra baixo e acabei não sentindo mais nada, finalmente reconheço de novo o gosto do desejo, saboreio com a língua, guardo no céu da boca.
É assim desejar, penso comigo mesma como quem descobre um segredo que todo mundo já sabia. Monto em cima de você, lambo teus lábios, bebo tua saliva, dou meu peito pra você mamar e tudo isso eu sinto, minha buceta sente.
Três anos atrás, quando ouvi da médica o diagnóstico de depressão, foi um alívio e uma sentença, faca de dois gumes, com medicação e terapia, consegui vencer a força da gravidade e sair da cama, me alegrei por ser normal de novo, por ser capaz de escovar os dentes, tomar banho e não pular refeições, por conseguir olhar minhas mensagens e não achar que ia morrer.
Por outro lado, tamanho o esforço de viver que não restava força pra querer, do sexo eu já estava desistindo, quando tentava era como se meu corpo estivesse vazio e eu vendo tudo de fora, até a masturbação, que sempre tinha sido fácil, deixou de ser, as poucas vezes que tentei me tocar não senti muito, depois não senti nada, e quando quis chorar por ter perdido o gozo, nem lágrima eu tinha.
Tive tanto medo de que viver fosse ser assim pra sempre, mas depois de três longos anos atravessando o deserto da minha alma, comecei o desmame da medicação e, por acaso ou não, logo depois te conheci. No começo, não te dei bola, por que me arriscar pra mais uma decepção?, mas você veio sem pressa, como quem dá um passo de cada vez, coisa que eu mesma nunca soube fazer, e foi tua serenidade quando eu disse que não conseguia gostar de ninguém que me fez gostar de você.
Você simplesmente deu de ombros e disse: eu ainda não preciso que você goste de mim, se eu precisar e você não gostar, eu me gosto o suficiente pra ir embora. Naquele dia, pensei: encontrei alguém que eu não preciso salvar. Estava certa, não precisei te salvar e você não precisou ir embora.
Agora volto pro teu lado na cama, grudo meu corpo no teu e gozo com teus dedos macios nos meus lábios molhados - é como andar de bicicleta depois de muito tempo, um misto de surpresa por ainda saber e a alegria de sair andando, pego o embalo do gozo e vou, não sei bem o que o meu corpo faz, se grito ou emudeço, se xingo ou rezo, não sei, sei que vejo o deserto se inundando inteiro.
Você tá chorando?, escuto tua voz me perguntar como que de longe e sou puxada do transe onde estava de volta pra a realidade onde habitamos, abro os olhos e vejo o quarto, o ventilador, você. Toco meu rosto e ele está molhado.
Deusa, depois de se deleitar lendo essa news, que tal encaminhar para uma amiga que também merece sentir prazer lendo esse conto?
— Sugestão Lasciva
A sugestão lasciva de hoje é o filme Retrato de uma jovem em chamas, um dos filmes mais bonitos que assisti esse ano. Roteiro impecável, cenas belíssimas, desejo transbordando da tela - não quero dar spoiler, apenas assistam. Está disponível na Prime Vídeo e na GloboPlay.
— Terapia Erótica
Nesse mês que passou, voltei a atender como terapeuta. Já fazia um tempo que estava sentindo que era hora de voltar e bastaram poucas sessões pra eu confirmar que o saber do meu peito estava certo. A cada sessão me relembro o poder das palavras de dar sentido ao imensurável que a gente carrega dentro. Que bonito é quando as palavras trocadas não só ajudam a gente a se entender, mas entendendo, libertam, acolhem, fazem a gente atravessar nosso caminho com mais clareza e mais força. Obrigada a todas que confiam a mim suas histórias, angústias e desejos. É uma honra. A agenda está aberta e as vagas das próximas semanas estão sendo preenchidas rapidamente, corre pra garantir a sua:
— Pra dar replay
Falando em terapia, aqui compartilho um dos primeiros insights que tive quando comecei minha jornada de autodescoberta: onde houve uma privação no seu passado, é provável que haja uma fome no seu presente. E aí te pergunto: qual a tua fome?
— Curadoria Lasciva
para te nutrir de erotismo
uma playlist:
uma poesia:
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Me conectei com o texto. To na travessia de um momento difìcil, ânimo muito baixo, comecei medicação essa semana. Nao sei se vai ter esse efeito no libido, ainda uso o sexo pra me conectar com o estar viva, mas me identifico com a ideia de nao conseguir se entregar e gostar de uma nova pessoa, só porque meu mundo interno tá muito expandido. Encontrar alguém que topa acompanhar isso sem expectativas deve ser bonito :) E se encontrar de novo pelo gozo é um desfecho lindo.
Narrativa visual 🩷 fui teletransportada lendo