Esses olhos são de onça ferida, de mulher que amou e perdeu, que feriu e ganhou, e com tudo fez a única coisa que podia fazer: arte. Por isso escrevo, pra fazer tudo valer a pena. Não se engane com esse meu corpo ondulante, essa língua afiada, essas garras vermelhas, é tudo armadilha: o que eu quero mesmo é te fuder com as minhas palavras.
Falo tudo isso pra ele deitada no sofá enquanto ele escolhe um disco. Ele me escuta com um sorrisinho de canto de boca, é noite, mas a cidade não dorme, lá fora ainda passam carros, caminhões, gente sem rumo, gente com pressa, tudo faz barulho, tudo está vivo. Ele coloca Transa pra tocar, o melhor álbum do Caetano, concordamos exaltados, no ar o cheiro do incenso de lavanda que acendi.
Ele diz que leu em algum lugar que pessoas se apaixonam por escritores porque querem ser eternizadas. Eu respondo que o nome disso não é paixão, é oportunismo.
Você tá me chamando de oportunista?, ele pergunta exagerando uma cara de ofendido.
Você tá me dizendo que tá apaixonado?, retruco.
Ele ri, rio também, deitando de um jeito que propositalmente faz minha saia subir e deixa minha bunda à mostra, é nosso primeiro encontro, ele me perguntou pra onde eu queria ir e respondi: me surpreende. Ele aceitou o desafio - e gosto de quem não se assusta facilmente, comigo tem que ter bravura, desprezo os covardes.
Ele me disse pra encontrá-lo na estação da República às sete e eu, que detesto o centro de São Paulo, fui curiosa e sem reclamar. Ele me esperava todo bonito e perfumado, de blazer azul marinho, all star branco, os dreads presos no topo da cabeça.
Andamos pelas ruas sujas conversando sobre coisas banais, os braços roçando de leve um no outro, no ar aquele desconforto bom de primeiro encontro. Perguntei pra onde ele estava me levando. Ele me disse pra confiar no desconhecido. Eu anotei a frase mentalmente pra escrever depois.
Ele parou em frente a um prédio verde-água com uma porta de correr de metal, senti o cheiro familiar e inconfundível de livro velho. Era um sebo. Fiquei entre perplexa e imediatamente apaixonada - ele sabia que eu era escritora e me levou pra um sebo. Brilhante.
Cinco horas depois, no meio da madrugada da selva de pedra, as roupas vão se perdendo aos poucos, sinto seu peito largo e sem pelos com as pontas dos dedos, lambo sua barriga, esfrego meu corpo contra o dele, seu pau cresce, querendo se libertar da cueca branca.
Ele tira minha saia e vê a calcinha preta de renda que está por baixo, dá um passo pra trás, coloca a mão no peito fingindo um ataque do coração, se deita no tapete como que rendido dizendo: hoje a presa sou eu, né, tigresa?, eu acho graça, mas falo que prefiro ser onça, que é bicho da nossa terra, então me abate , ele pede, e o dengo na sua voz é tão gostoso, ele ali deitado sem camisa, a pele escura e macia, as covinhas no rosto, acho tão bonito que não consigo pensar rápido o suficiente pra retrucar qualquer coisa inteligente.
Já que não sei o que dizer deixo o corpo falar, salto na sua direção, beijo seus lábios grossos, procuro com as mãos a barra da cueca, liberto gloriosa o seu pau, que salta apontando firme na minha direção, um pau grosso, roxo, as veias latejando como se fossem explodir, quero devorá-lo, mastigar sua carne e cuspir seus ossos, coloco-o na boca, chupo intensa, ele fecha os olhos e geme baixinho, sua respiração acelerando, até que ele me para na vertigem do orgasmo.
Você primeiro, diz entre dentes.
A gente se beija no tapete, ele lambe meu pescoço, abaixa as alcinhas da minha blusa, chupa meus mamilos, me despe inteira, enfim estamos nus e gosto como ele se afasta pra me admirar. Ele faz um movimento gracioso, um mergulho quase em câmera lenta: encaixa os lábios volumosos na minha buceta e sinto o calor da sua respiração entre minhas pernas, começa chupando devagar, a língua molhada passeando pelo clitóris.
Enquanto ele me chupa aperta meus mamilos, que parecem conectados com o clitóris e vice-versa, uma corrente de eletricidade flui de cima pra baixo e debaixo pra cima, gemo cada vez mais alto, aguda, chorosa, como uma onça no cio, ele continua, sem mudar o ritmo ou a pressão, sinto o orgasmo chegar, peço pelo seu pau, ele vem e gozo quase imediatamente.
Gozo escandalosa e selvagem. Vou voltando à consciência aos poucos, como se o orgasmo tivesse me levado pra longe (e levou), então rio, rio porque sempre que gozo grande me dá vontade de rir e gosto de quem não pergunta porquê, de quem simplesmente entende o gozo como um estado de graça, ele ri comigo.
Seu pau ainda está duro e me excita que ele se excite com meu gozo, salto por cima dele e vou sentando devagar, sentindo seu pau me abrindo de novo, solto um grunhido de onça feliz.
É aí que ele pergunta: você vai escrever sobre mim?
Deusa, depois de se deleitar lendo essa news, que tal encaminhar para uma amiga que também merece sentir prazer lendo esse conto?
— Vale a pena ver de novo
Sobre a pressa dos homens no sexo, sabe quando você fica com a sensação de que eles só querem que acabe logo? Dá play pra acabar com qualquer vestígio de culpa ou sentimento de inadequação:
— Curadoria Lasciva
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Uma arte:
Até a próxima, deusa!
Com carinho,
Lua Menezes