Eu, você e ela. Tem quem diga que três é demais. Mas o triângulo entre nós é perfeito. Eu sou a terceira. Cheguei depois. Eu e esse desejo incandescente no meio das minhas pernas. Eu via vocês de longe e babava diante da beleza. Um dia fiquei mirando as duas numa festa, se beijando, a língua de uma dentro do sorriso da outra, minha calcinha saiu molhada.
Eu ainda estou aprendendo a desobedecer. Cresci pra ser santa, no máximo, recatada, no mínimo. Você já nasceu desobedecendo, desde cedo contra tudo e todos. Ela, fico sabendo depois, cresceu como eu, mas parece tão livre e tão solta na própria liberdade, feito bicho fugido de jaula - talvez já esteja no meio do caminho que comecei a percorrer. Talvez por isso tenha tanta pressa de viver, detesta o tempo perdido na domesticação.
Eu e você, a gente começa com um poema. Eu compartilho e você curte. O flerte brota do verso de Adélia Prado que diz "meu amor é assim, sem nenhum pudor". E a gente acaba conversando sobre coisas despudoradas. Uma hora pergunto: e sua namorada? Sabe que você tá conversando comigo? Não sei o que move minha pergunta, talvez eu quisesse te pegar no flagra, te revelar culpada de alguma coisa, sabotar o desejo por medo do que ele pudesse ser - pra minha alegria e horror, você responde sim. Depois pergunta, sem delongas, se quero sair com vocês duas.
Dos sins desobedientes nascem toda sorte de pecados, eu digo depois do nosso primeiro beijo e acho que é uma afirmação inteligente. Ela retruca que não há pecado, o pecado é uma invenção. Eu me derreto com a heresia do seu sorriso. Ainda tenho muito a desaprender.
Beijo de três línguas é como tentar respirar debaixo da água, perco o ar e me afasto um pouco pra me recompor. Vejo você e ela e o beijo do qual já não faço parte - tenho medo de entrar. Tenho mais medo de ficar de fora.
Você me percebe e me puxa de volta pela cintura. Ser abraçada por todos os lados é benção pra quem ainda tem medo de ficar sozinha. Ela beija meu pescoço e você meu decote. Minhas pernas estão prestes a desabar, mas vocês me deitam no sofá antes da queda. Tem uma boca em cada um dos meus mamilos, seguro sua nuca e a dela, eu a própria vaca profana, e mesmo deitada continuo caindo, que vertigem é essa?
Ela faz uma pausa pro baseado e, por trás da cortina de fumaça que sai dos seus lábios carnudos, sinto seu olhar de fera. Me sinto em risco de viver. A gente volta a se beijar e isso ocupa uma eternidade inteira. Mulher não vê desperdício no tempo assim gasto.
Quero esconder que é minha primeira vez, suspeito que minha falta de jeito revele demais de mim. Me afasto de novo, fingindo sede. Bebo um copo d'água enquanto vocês continuam. Vocês não precisam de mim. Tem uma liberdade estranha nisso. Você tira a roupa dela e deixa um rastro de saliva nas suas tatuagens. Ela me olha e geme. Gosta de ser vista. Descubro que gosto de ver.
Sento do lado de vocês. Me masturbo diante da beleza. Vocês olham pra minha buceta como se ela fosse uma coisa bonita e acredito que é. Você a chupa e ela sorri pra mim, sussurra vem cá e aponta pra própria boca. Sem parar de chupar, você também sorri. Vocês não precisam de mim, mas me desejam. Tem uma liberdade gostosa nisso. Sento onde ela me mandou sentar. Estou tão molhada que escorre pelas minhas coxas. Dou de beber pra fera. Ela geme abafado. As vibrações do seu gemido no meu clitóris. Ela goza com a minha buceta na cara dela. O seu prazer aumenta o meu.
Eu, que fui ensinada a ver mulheres como inimigas, estou aprendendo a amá-las. Como é belo desobedecer.
Deusa, depois de se deleitar lendo essa news, que tal encaminhar para uma amiga que também merece sentir prazer lendo esse conto?
— Sugestão Lasciva
A sugestão lasciva de hoje é o livro Não há partes ruins, do terapeuta e acadêmico Richard Schwartz. Richard te convida a compreender quem você é a partir de uma perspectiva multifacetada - você é composta de muitas partes e cada parte tem seus desejos, funções, história. Compreender isso através de uma perspectiva compassiva faz com que você veja que não há partes ruins e que até as partes que você menos gosta, as autodestrutivas, as medrosas, têm razão de ser e, quando escutadas e acolhidas, podem trazer curas e potências. Recomendo a leitura.
— Vem aí: tudo sobre orgasmo
Dia 31 de julho é o dia do orgasmo. Mas a verdade sobre o (des)prazer das mulheres é que muitas ainda não gozam. Entre as que gozam, muitas estão insatisfeitas por não gozarem sempre ou por sentirem seus orgasmos curtos e fracos. A boa notícia é que orgasmo é aprendizado. E mesmo que você já tenha experienciado o gozo em profundidade, pode sempre ir mais fundo. O gozo é um universo inteiro e há muito a se explorar. Por isso, estou preparando um evento especial pra gente celebrar esse dia juntas. Fica atenta e marca dia 31 de julho na agenda!
— Para dar replay
Você já ouviu a Temporada Especial Jardim das Delícias do Podcast Lasciva Lua? Num clima de nostalgia e gratidão pelo passado que me trouxe até o presente, revisitei algumas aulas do primeiro curso que criei e transformei numa temporada de 4 episódios. É uma maneira de democratizar um conteúdo que faz toda a diferença, afinal conhecimento é poder. Espero que você goste. Bom deleite!
— Curadoria Lasciva
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