A resposta rápida é: sim, terminamos. A resposta longa não caberia num post, mas vou elaborar alguns pontos importantes pra dividir com vocês.
Foram seis anos de relação. A gente se ajudou a crescer, viveu coisas lindas, dividiu casa, cachorro e coração. A gente nunca brigou e com ele tive a sorte de aprender um amor tranquilo, levo essa lição comigo.
Foi uma relação pacífica e plena até que a gente discordou. E a gente discordou sobre algo que não tinha concessão a ser feita que não se chamasse sacrifício, palavra que me pesa, porque em relações anteriores sacrifiquei partes inegociáveis de mim e sofri. A narrativa do sacrifício é herança das mulheres da minha família, que sacrificaram demais em nome do amor - não é assim que mulheres são socializadas, pra dar tudo de si?
Quero que fique claro que se dar tem tudo pra ser bonito, amar é ação que se concretiza nessa dança generosa de dar e receber (e eu amo dar), mas pra que seja saudável, a gente precisa antes ser abundante. E eu já não estava me sentindo abundante. Meu irmão sabiamente me disse um dia: auto sacrifício não é uma boa linguagem do amor. Dar não é se sacrificar.
O discurso "amar é ceder, fazer concessões, blablabla” pode ser muito perigoso pra mulheres, porque beira ultrapassar limites, desejos, valores - e assim como eu não estava disposta, também não gostaria que ele fizesse o mesmo e passasse por cima de si. Desejo melhor pra mim e pra ele.
Quando a gente discordou sobre algo que não tinha meio termo, quando um ou outro teria que fazer concessões grandes demais, foi tudo muito rápido, a gente preferiu terminar, não arrastar o fim.
“Ah, vocês terminaram porque não-monogamia não dá certo”. Além de falacioso, esse argumento não se sustenta. Quando um casal monogâmico se separa, ninguém diz: tá vendo, a monogamia não funciona.
Continuo acreditando na não-monogamia. E não estou dizendo que é fácil, nem "romantizando". Pelo contrário, quem já leu meu livro ou me ouviu de verdade, me viu assumindo que é difícil. É uma desconstrução tão tamanha, tão cortante, que desafia a mudança de tantos paradigmas e sentimentos entranhados desde cedo que, sinceramente, quem nunca viveu não tem o que falar.
É preciso lugar de fala, sim. Assim como seria absurdo alguém que não é mãe encher a boca pra falar de maternidade, pra falar com propriedade de não-monogamia é necessário o saber da experiência. Por isso, não tomo pra mim críticas agressivas de quem agride porque se sente ameaçado.
"Você ficou em silêncio porque está com vergonha que não deu certo", li de uma seguidora. Não, não estou com vergonha. Pelo contrário, estou orgulhosa. Construí uma relação saudável e quando senti que já não me cabia, escolhi meu caminho. E escolher o próprio caminho, especialmente quando ele não segue o roteiro que é dado pra gente, demanda certa bravura. Minha psicóloga me perguntou: como se reúne coragem pra deixar um relacionamento bom? Agora eu sei.
Sempre imaginei que se um dia terminasse com ele seria devastador, só de imaginar o fim tinha medo de desabar. Mas, pra minha própria surpresa, quando a relação ruiu me vi de pé, inteira, mais inteira do que antes, porque conectada com minha firmeza e a certeza do meu coração.
Esse foi o primeiro término que não me destruiu - e foi o término da relação mais significativa que já tinha vivido até então. Nos términos anteriores, eu me rasgava, perdia pedaços de mim, deixava que levassem. Dessa vez não, reuni meus ossos e finquei meus pés no chão. Não me entendam mal, doeu. Claro que doeu.
Chorei muito. Encarei o luto. Ouvi farpas. Fiz escolhas que o feriram. A gente saiu machucado, cada um lambendo suas feridas. Senti os tentáculos da culpa querendo me puxar pra baixo, porque internalizei desde menina que a mulher é sempre a culpada e em algum lugar essa voz ainda ecoa em mim. E não só em mim - em todas nós.
Tive que ler mais de uma seguidora dizendo que estava "com pena" dele, mesmo elas não sabendo absolutamente nada do que havia acontecido. E se ele tivesse sido abusivo ou violento? Pras defensoras dos homens, pergunto: eles teriam a mesma piedade com vocês, comigo, com qualquer outra mulher?
Em outra sessão, a psicóloga me perguntou qual era meu maior medo em relacionamentos e, pela primeira vez em 33 anos, não respondi ser abandonada. Respondi: me abandonar. E quando ouvi essas palavras saindo da minha boca, ouvi crescimento.
No final, olhei pra trás e me pacifiquei quando vi com clareza que fui uma ótima companheira, que dei tudo que podia e queria, que o amei até o fim, até o amor se transformar.
Demorei pra responder sobre ele porque estava elaborando o turbilhão - ainda estou. Que loucura, no meio disso tudo, lidar com um término publicamente, com perguntas constantes e cobranças (algumas bem invasivas). Entendo a curiosidade e desde o começo sabia que gostaria de falar sobre, mas no meu tempo.
Tempo que não foi respeitado por algumas. Ouvi de mais de uma seguidora que, por ser “figura pública”, não podia reclamar. Me disseram, em caps lock, que EU TINHA QUE ME EXPLICAR. Ser mulher é incessantemente ter que lidar com gente querendo que a gente se explique, se justifique, dê satisfação. Não é à toa que um dos cernes do meu trabalho é dizer: a gente não é obrigada.
Ouvi também que, como sempre expus muito da minha vida, as pessoas assistem como se fosse um filme e, quando um personagem desaparece e não tem desfecho, as pessoas ficam com a sensação que o filme foi ruim. Acontece que não é um filme. É vida real, aliás, vidas reais. Não tem "personagem", tem gente de carne e osso do outro lado da tela. Não tem “desfecho” porque a vida está acontecendo. Quem assiste como se fosse um filme é responsável pelas expectativas que projeta.
Sei que pra muitas ele representava uma esperança de homem possível e nosso relacionamento era inspiração. Me sinto honrada por isso e feliz que essa relação, além de ter sido tão bonita pra gente, tenha inspirado fé no amor. Não percam a fé no amor. Eu não perdi. Amar é, sim, a maior benção do mundo.
Foi lindo enquanto durou - e ter terminado não muda isso. Os momentos doloridos do fim não mudam o que foi antes. Por isso serei pra sempre grata pelo o que a gente viveu. Cresci, ensinei, aprendi, amei e fui amada, não carrego arrependimentos.
Agora cresci em outra direção. E estou feliz. Pra mim, a maior inspiração é ver uma mulher fazendo suas escolhas e sendo feliz do jeito que escolheu ser. Meu amigo Ian Rassari brinca que a gente é “viciado em viver”, e sim, estou na vida pra viver. Meu maior medo, o maior de todos, é morrer em vida, é não ter coragem de viver a vida que eu quero.
E coragem eu tenho. Coragem é o que desejo pra todas nós.
Ps.: apesar de várias cobranças, críticas e unfollows, recebi, em maior medida, muitas mensagens de carinho e suporte. Agradeço de coração a todas vocês que me lêem e acompanham com olhos generosos. A gente não precisa ser igual nem viver igual. Respeito e afeto é mais do que o suficiente pra levar a gente mais longe. Obrigada pela rede.
Novos Episódios do Podcast Lasciva Lua:
O que você mais me inspira é coragem! Coragem de ser, se desfazer, doer, chorar, gozar. Neste tempo todo o que mais me chama a atenção é seu brilho nos olhos, eles agora parecem jorrar vida. Você merece ser inteira e aqui do outro lado fico feliz de te ver sustentando seu tamanho. Obrigada por partilhar sua existência, ela é mesmo gigante ♥️
Lua sinto muito que tenha passado por este processo com tanta cobrança e falta de empatia.. muito antes de qualquer relação sua, Vc me inspira demais. Te conhecer, ler o Rio Profano me fez pensar diferente em vários temas, ainda tenho muito que aprender mas te conhecer realmente me fez despertar muito!! Obrigada pela sua dedicação e carinho com os conteúdos!!! Muita luz na sua vida sempre!!!